quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

SEDIR - OS SOFRIMENTOS MENTAIS

PAUL SEDIR 1871-1926




SEDIR - OS SOFRIMENTOS MENTAIS


O número de seres humanos afetados pela falta do controle sobre si-mesmo, em seus diversos graus, aumenta a cada dia. A aceleração da existência, a incerteza do amanhã, a força das paixões, a rejeição à disciplina, o abuso dos excitantes, o exemplo geral de desordem são as causas inquestionáveis desses transtornos pessoais Com muita freqüência nos encontramos diante de um destes vencidos pela vida cujas revoltas são, unicamente, o resultado dos sobressaltos de sua impotência. Diante deles ficamos sem poder lhe falar de Deus porque não aceitam mais. Ficamos sem poder lhes fornecer alguma consideração moral, porque que eles, em seu egoísmo ferido, consideram isto futilidades. Então se torna necessário ai, inventar um discurso que os atinja pessoalmente, e lhes mostre suas responsabilidades pessoais na fraqueza em que sofrem, que lhes ofereça, enfim, um tratamento racional que possam compreender e aplicar por si-mesmo.

Eis o que me parece sensato para dizer a estes doentes difíceis:

 A inteligência é dupla: inconsciente e consciente. A primeira é a reserva da segunda, a quem fornece as percepções sobre a massa nas quais se exercerá o julgamento, em seguida a vontade. No indivíduo normal, esta dualidade aparece pouco. No doente, ela se acentua, porque a doença nervosa, mental ou psíquica é uma ruptura do equilíbrio entre o inconsciente e o consciente. Este equilíbrio é o controle, o mestre de si-mesmo que funciona automaticamente em estado de sanidade psíquica.

A ausência total do controle, é a loucura. A insuficiência ou instabilidade do controle, é a psico-nevrose, a psicastenia.  Ela se manifesta por um sentimento de incomodo/indisposição, uma perturbação, uma sonolência cerebral, ou uma confusão de idéias, ou a exageração de uma idéia fixa, as sensações mesmo se deformam, as ações são indecisas. A doença é dispersiva, obsessiva e incapacita à ação. Estas perturbações cerebrais chegam mesmo a alterar o funcionamento dos órgãos, e se produzem as dispepsias nervosas, as enterites nervosas, os tremores, as perturbações da vida, de audição, as fobias, assim por diante.

As causas da insuficiência do controle cerebral podem ser: hereditário, desgostos, inquietações ou os excessos de todos o gênero. Às vezes, a doença data da infância, às vezes aparece bruscamente devido a um choque psíquico ou moral, às vezes é periódica.

Os sintomas são: impressionabilidade exagerada, instabilidade de humor, a indecisão, a mania debatedora, e a obsessão do passado ou do futuro. Estas perturbações, de início acidental, se estabelecem pouco a pouco e se agravam quando o doente percebe sua inferioridade. Neste ponto acelera a fadiga, o desencorajamento, a inquietação, tornando-o incapaz de querer; e em geral a vida torna-se confusa, enquanto a audição se hiperestesia (de onde vem a insônia).

Os meios curativos conhecidos são de início a sugestão e a hipnose. Estes meios artificiais não curam realmente porque não ensinam ao doente a maneira de reeducar seu controle psíquico. Apenas oferecem alhures, do ponto de vista espiritual, inconvenientes já assinalados aqui mesmo. É preciso ensinar ao doente como retornar à consciência. Eis alguns exercícios que podem ser feitos, lentamente, docemente, e durante alguns minutos apenas:

1. Se há perturbações musculares, execute movimentos simples, da mão, dos braços, das pernas, observando como os músculos se movimentam, e se unem àquele que permanece imóvel.
2. Se há perturbações sensoriais, que ele observe um objeto qualquer e estude sua forma, a cor, o peso, o contato.  Igualmente para a vista, para o ouvido, assim por diante.

Em outros termos, é necessário que o doente diga no momento da percepção: Eu vejo, eu escuto, eu toco tal e tal coisa. E antes de toda ação: Eu vou fazer tal coisa. O mesmo para o controle das idéias: que, várias vezes por dia, o doente anote por escrito, o que acabou de fazer, de dizer ou de pensar na meia hora ou hora anterior, exatamente e com concisão, sem romantismo.

Estas simples receitas, que você ajudará o doente na execução com sua experiência, calma, paciência, simpatia, serão  suficientes, se foram empregadas todos os dias e à hora fixa,  para reconquistar o controle.

Entretanto, em se tratando de obsessão, de neurastenia profunda, de embolia total, e se há perturbações fisiológicas graves, será necessário recorrer à intervenção de um médico especializado. Pois estas curtas indicações somente são destinadas a servir nos casos benignos, que somos chamados a reencontrar tão frequentemente nos  contatos  com os infelizes.

TEXTO ORIGINAL EM FRANCÊS
LES SOUFFRANCES MENTALES

Le nombre des êtres humains affectés d'un défaut plus ou moins grand de contrôle sur eux-mêmes augmente chaque jour. La hâte de 1'existence, l'incertitude du lendemain, la force des passions, le rejet des disciplines, l'abus des excitants, l'exemple général du désordre en sont les causes redoutables; et trop souvent nous nous trouvons devant l'un de ces vaincus de la vie dont les révoltes ne sont que les sursauts de son impuissance, sans pouvoir lui parler de Dieu, qu'il n'accepte plus, sans pouvoir lui fournir des considérations morales, que son égoïsme blessé considère comme des contes. Il faut ici inventer un discours qui l'atteigne personnellement, qui lui montre ses responsabilités personnelles dans la faiblesse dont il souffre, qui lui offre enfin un traitement raisonnable qu'il puisse comprendre et appliquer lui-même.

Voici, me semble-t-il, ce que l'on peut dire à ces malades difficiles.

L'intelligence est double: inconsciente et consciente; la première est le réservoir de la seconde, à qui elle fournit les perceptions sur la masse desquelles s'exercera le jugement, puis la volonté. Chez l'individu normal cette dualité apparait peu; chez le malade, elle s'accentue, parce que la maladie nerveuse, mentale, ou psychique est une rupture d'équilibre entre l'inconscient et le conscient. Cet équilibre c'est le contrôle, la maîtrise de soi-même qui fonctionne automatiquement en état de santé psychique.

L'absence totale de contrôle, c'est la folie. L'insuffisance ou l'instabilité du contrôle, c'est la psychonévrose, la psychasthénie. Elle se manifeste par un sentiment de malaise, un trouble, une somnolence cérébrale, ou une confusion d'idées tourbillonnantes, ou l'exagération d'une idée fixe; les sensations même se déforment, les actions sont indécises; le malade est distrait, obsédé, ou incapable d'agir. Ces troubles cérébraux en arrivent même à altérer le fonctionnement des organes, et se produisent les dyspepsies nerveuses, les entérites nerveuses, les tremblements, les troubles de la vue, de l'ouïe, les phobies, etc..., etc...

Les causes de l'insuffisance du contrôle cérébral peuvent être: l'hérédité, les chagrins, les soucis, les excès de tout genre. Parfois la maladie date de l'enfance, parfois elle survient brusquement à la suite d'un choc physique ou moral, parfois elle est périodique.
Les symptômes en sont: l'impressionnabilité exagérée, l'instabilité de l'humeur, l'indécision, la manie discutante, l'obsession du passé ou de l'avenir; ces troubles, d'abord accidentels, s'établissent peu à peu et s'aggravent parce que le malade s'aperçoit de son infériorité; il se fatigue, se décourage, s'inquiète, devient incapable de vouloir; en général la vue devient confuse, tandis que l'ouïe s'hyperesthésie (d'où les insomnies).

Les moyens curatifs connus sont d'abord la suggestion et l'hypnose; ces moyens artificiels ne guérissent pas réellement parce qu'ils n'apprennent pas au malade la façon de rééduquer son contrôle psychique; ils offrent d'ailleurs, au point de vue spirituel, des inconvénients déjà signalés ici même. Il faut réapprendre au malade à redevenir conscient. Voici quels exercices on peut lui faire faire, lentement, doucement, et pendant quelques minutes seulement:

S'il y a troubles musculaires, qu'il exécute des mouvements simples, de la main, des bras, des jambes, en regardant comment les muscles bougent, et en s'attachant à ce qu'il n'y ait pas de saccades.
S'il y a troubles sensoriels, qu'il saisisse un objet quelconque et qu'il en étudie la forme, la couleur, le poids, le contact. De même pour la vue, pour l'ouïe, etc...

En d'autres termes, il faut que le malade se dise au moment de la perception: Je vois, j'entends, je touche telle et telle chose. Et avant toute action: Je veux faire telle chose.

De même pour le contrôle de ses idées: que, plusieurs fois par jour, le malade note par écrit ce qu'il vient de faire, de dire ou de penser durant la demi-heure ou l'heure précédente, exactement et avec concision, sans romantisme.

Ces simples recettes, que vous aiderez le malade à exécuter en l'aidant de votre expérience, de votre calme, de votre patience, de votre sympathie, suffiront, si on les emploie tous les jours et à heures fixes, à reconquérir le contrôle.

Si toutefois il s'agit d'obsessions, de neurasthénie profonde, d'aboulie totale, s'il y a des troubles physiologiques graves, il faudra recourir à l'intervention du médecin spécialiste. Car ces courtes indications ne sont destinées qu'à servir dans les cas bénins, que nous sommes appelés à rencontrer si fréquemment dans nos rapports avec les malheureux.
(D'après une causerie de Sédir)